domingo, 5 de setembro de 2010

Bilhete

Vazio do real encabulante dos seus lábios, de olhos afogados no mar, salgo a tarde deste mês nos vestígios que catei naquele encontro. O que nos impede? Interditados pelo tempo mássico que nos caiu de pronto sobre nossas cabeças, abro perto do caração selvagem, bolino as palavras de Clarice no afã de que uma mágica faça mover o universo trazendo a mim sua voz. Não ouso perder o prazer de receber tão encantadora prenda. Que perigo mais eu não correria escrevendo verbos? Verso em prosa pra te conquistar o coração? Num mês inteiro - vinte anos - o tempo que amadureceu pra mim uma alma tão doce. Olho o horizonte. Vela. Mar, montes, e te vejo nua deitada em redes, só. Mas antes que este mês termine nos desmaios das ondas cortadas por vinte anos assim, você há de me erguer novamente as pálpebras e queimar-me a pele com seus olhos.

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