sábado, 20 de novembro de 2010

pecar sem deus

Então, feliz, peguei seu jeito! Mais uns passos...talvez o quatro centésimo octagéssimo terceiro...mas, deixa estar que esse caminho vai sendo!
Hoje fez sol, táqui...ali fora...na sombra, prancheta, caneta, bossa nova, seusózinhos...e lábios claros grossos num sorriso a me olhar. "Que incrível! De onde viemos pra nos encontrar? Estávamos já há tanto tempo tão perto e não nos vimos...e até nos falamos..." (lembrança minha)
Beleza de enjoar, de doer, e os clichês se acomodando feito gato...se desdobrando...compondo...lábios grossos, sem baton, sem pressa no meus dedos...de linha...lineamento...desenhando...com pondo.. tocando...lábiosdedos...boca.
Diadorim, diz pra mim..ser tão assim é pecar sem deus?
Vamos diz simular, comer palavras na carne dos corpos enquanto seus lábios não vem...quase no meio seu nome e pergunto a lua que perde-esse a...vagando nas núvens que encobre e deixa lu se a na morar.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O LIVRO - 1ª página

Ele tem um nome, mas, não importa, vamos chamá-lo de ele. Depois da Carta, fez as malas e viajou para uma cidade do interior, sua cidade natal. Hospedou-se num hotel barato porque seu dinheiro era curto. Um quarto sem banheiro, cama, tv, cobertor, algum mofo nas paredes amarelas, uma janela por onde se avistava uma mangueira com frutos. Demanhã café farto. Enfarto no peito. As letras pipocando na tela do netbook. Chovia triste. Alguns pássaros cantam. Certeza de nada. Nada corroia. Uma vontade de virar livro. Olhou invejoso para Grande Sertão estendido sobre a cama. Na pasta, Deleuze e Goethe. Escreve algumas frases sobre si e em seguida as apaga com um sentimento de que não queria contar sua própria história como se fosse uma crônica autorreferente. A quem interessa saber seus problemas emocionais, sexuais, amorosos? Então, imaginou algum tema que pudesse levá-lo pra dentro do livro. Assim como fez  Clarice perto do coração selvagem. Mas aí seria a história de um personagem qualquer servindo como representante do autor. Não era bem isso que desejava. Ele não queria contar uma história, não queria fazer crônica, ensaio, declaração, narração, descrição, nada disso. Queria virar livro. Não poderia ser nenhum roteiro. Nem diálogo. Também não lhe era simpática a ideia de fazer uma espécie de teoria. A linguagem jornalística lhe era até atraente, mas não queria persuadir ninguém a nada. Nada de poesia. Nem filosofia. Mas tinha que ser um livro. Não desses de fotografia, gravuras, ou enciclopédia. Nem mesmo algum vocabulário. Alguém já havia escrito um livro de citações. Nenhum resumo de nada. Nenhuma resenha. Tese alguma. Somente um livro. Não sobre música, nem de cifras, tampouco sobre qualquer método que ensine qualquer coisa. Um livro que fosse comentários sobre cinema, teatro, literatura, cultura em geral, não. Blog, não. Resenha sobre os principais pensadores do século, jamais. Catálogo de viagens, nem pagando. Mapas, gráficos, bulas, panfletos, folders, nem morto. Qualquer propaganda estava fora de seu objetivo. Nem mesmo o simpático escrito de cordel. Os monumentais livros de arte. Os dicionários. Os cadernos. Nada disso. Nada de mídia alguma. Fechou o netbook e saiu pra dar uma volta.

domingo, 7 de novembro de 2010

depois veio a carta...

Na carta ele explicou como realmente se exerce na vida, no amor, no sexo, e tudo mais...ele achava que seria simples, que amor pudesse se exercer com simplicidade, como parecia estar em seu coração. Ela não conseguiu ou não pode entender. Sorriu, brincou, falou, contou suas história, bebeu vinho, e se foi... Ele ficou com um buraco no peito e um choro grudado no olho. No dia seguinte escreveu a carta. Disse que não mais teria tanto cuidado ao se exercer na vida, pois não adiantou nada. Ele, afoito, não tolerava o tempo que nos arrasta. Leu, escreveu, viu filmes, retratos, cozinhou, tocou violão, cantou, conversou com amigos virtuais, e o telefone mudo. Olhava seus livros espalhados pela mesa, pela estante...conversava em silencio com eles...as vezes abria algum..e o escutava. Era tanta gente ali na sua casa falando silenciosamente com ele: Clarice, João Rosa, Raduan, Nol, Carlos, muitos, muitos...Guimarães: ..."eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo mundo..." Ele até ficava pensando que poderia passar o resto da vida ali, entre "os caras"...e que esse negócio de muito amar corpo poderia ser revolvido com o seu próprio...e se resolvia, provisoriamente...Um dia teve uma fantasia: viu-se todo tatuado de letras, mas as letras não formavam frases com sentido. Aquilo ficou matutando na sua cabeça. Esqueceu; mas como se esquece um sonho. Pegou da máquina de escrever e compôs um texto. Era início do séc. XXI. Começou a contar a história do homem que, por amor, virou livro.

sábado, 6 de novembro de 2010

te amo

Falei te amo
Nem passei pelo voglio bene
E fiquei sem pele

Alguém ainda faz isso?
Pergunto ao Outro

Ele ri, generoso
Deixa um pouco de você como sinal
Lembra do choro?
Não se perca tanto
Que sorte que há o corpo
Pra se sair do infinito das palavras