sexta-feira, 11 de março de 2011

Amantes

Eles se conheceram numa festa. Olhares cruzados, foi o bastante pra despertar Eros, que já estava um tanto sonado na fantasia dos dois. Levavam a vida normalmente: algum vinho, brejas, sorrisos, trabalho, casa, cansaço, sono. Alguma insônia era motivo pra internet, ou um bom livro.

Sabemos bem quando nosso corpo entende que houve um encontro de almas. É fácil. A conversa rola. Os sorrisos viram risos que viram gargalhadas. O olhar dá umas paradas no olhar do outro pedindo intimidade. As portas se abrem; talvez algum charme dela pra não parecer muito fácil. Mas os toques já experimentam e aprendem a textura, o calor, o cheiro da pele. Um afago nos cabelos, ou um beijo no cangote. Um carinho seguido do beijo na boca, sem resistência dela.

Depois de aprenderem o amor que fazem, um tempo para se conhecerem melhor nos corpos nus. Muito a vontade, se olham, conversam, brincam. Comem e bebem para repor a energia. Degustam com prazer o sabor da comida e do vinho.

Era sempre bom estar com ela; o mesmo sentia ele. Mas não falavam em namorar. Não falavam em fidelidade. Não marcavam antecipadamente o encontro. Um ligava, o outro aceitava quase sempre. Algum impedimento era entendido sem muitas explicações. Ninguém ficava em grande fissura se não se encontravam. Mas não levava muito tempo os dois saiam e se amavam. Saiam também com outras pessoas, mas não relatavam isso um para o outro. Um dia ela se apaixonou. Ele percebeu. Os encontros começaram a se tonar esparsos. Sem grandes explicações ela perguntou se ele faria um filho nela, logo após terem transado intensamente. Ele disse que sim. Ela falou sério, mas não sabia que após dois meses eles estariam separados. Ele engravidaria Lucia, com quem vai ter um filho, e talvez se case, ou more com ela por causa disso.

Eles hoje se perguntam. Por que foi assim? Não houve qualquer briga. Eram amantes. Perderam-se um do outro. Ela vai se curar da paixão. Ele tem saudades dela, mas continua saindo com outras mulheres. Ontem ele ligou pra ela e a convidou pra sair. Ela ficou balançada. Negou. Abriu um vinho. Bebeu sozinha toda a garrafa. Chorou. Dormiu. Ela vai se curar da paixão. Ele, não.

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